(por Ágabo Borges de Sousa)
A Páscoa judaica é marcada sobretudo pela refeição (Seder) pascal, que é feita em família. Além do jantar em família, eram celebrados ritos no templo, incluindo o sacrifício do cordeiro, hoje não se celebram mais esses ritos, mas há leituras nas sinagogas.
No jantar da Páscoa há alguns elementos importantes como o cordeiro assado, pães ázimos, ervas amargas, ervas doces e o molho doce com cor de tijolo. Na época do templo ocordeiro pascal era sacrificado no próprio templo, porém com sua destruição isso não foi mais possível, mas ficou a lembrança. Pois, na bandeja da Páscoa sobre a mesa do Seder, deve ter um osso grelhado, para lembrar do cordeiro e um ovo, "para lembrar as oferendas festivas que acompanhavam os sacrifícios" (Mansonneuve, Festas Judaicas, p. 31). Talvez venha daí nossa tradição do "ovo da Páscoa", tão condenado por muitos hoje.
O jantar da Páscoa tem um carácter eminentemente didáctico, ele ensina às gerações mais novas a torah oral, pois o filho mais novo pergunta o sentido de cada elemento e o pai ou oficiante responde com base nos textos da torah, conforme ensinou Hillel e Gamaliel. O rabino Gamaliel dizia: Quem não explicou os três elementos que acompanham a Páscoa não cumpriu com sua obrigação. Essa explicação se dá no Seder como resposta às perguntas do filho menor.
O Cordeiro Pascal (pesah) "é o sacrifício da páscoa de Jahwé, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou nossas casas" (Ex 12.27).
O Pão Ázimo (matsah) simboliza a falta de tempo de fermentar a massa do pão na saída do Egipto. "E cozeram bolos ázimos da massa que levaram do Egito, porque ela não tinha levedado, porquanto foram lançados do Egito; e não puderam deter-se, nem haviam preparado comida." (Ex 12.39).
As Ervas Amargas (maror) têm seu lugar porque os Egípcios tornaram a vida dos israelitas amarga com o sofrimento da escravidão. "Assim lhes amargurava a vida com pesados serviços em barro e em tijolos, e com toda sorte de trabalho no campo, enfim com todo o seu serviço, em que os faziam servir com dureza (Ex 1.14)". Hillel introduz ainda o molho doce, cor de tijolo, lembrando a
produção de seu trabalho, no qual é embebida a erva amarga para comer, pois a amargura da servidão se tornou em doçura, graças à salvação. Esse também será o sentido das ervas doces.
O aspecto didáctico da Páscoa é prescrito em Ex 12.25-26. Há no Midrasch a apresentação de quatro filhos, que representam quatro posturas diante da cerimonia.
1. O sensato, que quer aprender o sentido da Páscoa, por compreender ser ordenança de Jahwe;
2. O insensato, que não se compreende como parte da comunidade pascal, se excluindo de sua própria origem;
3. O ingénuo, que desconhece o sentido e é esclarecido
4. O que não sebe fazer pergunta, a este é explicado por iniciativa do pai.